ANSEIOS

(Crônica para as Mães)

Welis Couto

Enquanto dormia à noite no calmo abrigo, os braços alados faziam conchas no ar e protegiam o rebento, o noviço e o lar. A voz em prece, quase a sussurrar:

- Não deixe o meu menino sozinho neste mundo, tão frágil, o coitadinho, nem sabe andar.

O sono tranquilo no remanso da noite, mal sabia o pequeno que no seu leito em quietude protegia-lhe a mulher que ao mundo o trouxe.

Talvez, com a luz ainda tenra nos olhos, ele se perguntasse sem resposta que o contentassse

- Quem é essa mulher que não sabe lugar e que fica na vigília enquanto estou a sonhar?

Assim que o mundo vida lhe der, crescendo e rompendo os mitos do ser, a pergunta de ontem em resposta virá na palavra primeira que aprendeu a falar. Ao seu leito, é ela quem sentava para que ele dormisse e protegia-lhe dos sonhos vãos para que não sentisse a aflição dos anos que a vida aguerrida lhe provocava. O tempo que passava carregava a prece que ela sempre entoava:

- Não deixe o meu menino sozinho neste mundo, tão frágil, o coitadinho, mal sabe andar.

Esse mesmo tempo o fez crescer ante a face da mãe enrijecida nas duras batalhas que tivera que vencer. Os cabelos que se agrisalharam não lhe mudaram os motivos: o brilho nos olhos e os braços em conchas ainda protegem o rebento, aos quarenta... Anos que não vira o tempo passar!

Os cabelos grisalhos que acariciam o sempre menino de cabelos já ralos, que lhe protege o ninho, porque mãe é sempre a primeira que segue o filho por todos os caminhos e tece a sua teia de um lado a outro e outro e outro.

E o rebento, aos quarenta, envolto nessa teia não se debate, porque no embate, ela é sempre a primeira que desnuda do filho, a alma que mal envelhece. Em seu colo, o menino, aos quarenta, cabelos já ralos, ainda adormece, enquanto ele ouve a voz firme da mãe, em prece:

- Não deixe o meu menino sozinho neste mundo, tão frágil, o coitadinho, há pouco aprendeu a andar.